Montanhas
Subir montanhas, por que não?
Existe uma pergunta chata e recorrente, feita aos alpinistas: Subir uma montanha para quê? Para descer logo em seguida? Mallory, cansado da pergunta, respondeu de forma lacônica: “porque está lá”.
De fato, só tem a resposta o sujeito que vai lá, e cada um tem a sua: aventura radical, autoconhecimento, conquista, desafio, a natureza extrema e hostil.
Para mim, vou para a montanha por causa da visão de cima da montanha quando o sol nasce, sua sombra em forma de pirâmide, imensa, assim como os topos nevados como pontas de caneta das montanhas ao redor quando se está acima delas, as rajadas sólidas de vento no rosto, o sol abrasador da altitude quando vento não há, as estrelas tão mais próximas, as águias na altura dos olhos e formas de vegetação que só existem nessas alturas improváveis.
A montanha mágica, Thomas Mann.
“Era linda a paisagem da montanha hibernal — linda não de um modo suave e agradável, senão assim como o é o ermo do mar do Norte nos dias de um forte vento oeste. Não havia na verdade estrondo de trovões; pelo contrário, reinava um silêncio de morte, que no entanto despertava os mesmos sentimentos de reverência.
...o manto da desejada solidão, a mais profunda imaginável, solidão que inspirava à alma a sensação do desconhecido e do perigoso dessas paragens.
Quando Hans Castorp parava, a fim de não ouvir a si próprio, o silêncio era absoluto e perfeito, com o menor traço de som como que abafado por meio de algodão, um silêncio ignoto, jamais sentido, que não existia em nenhum outro lugar. Nenhuma brisa, por mais leve que fosse, roçava as copas das árvores; não se ouvia nenhum sussurro, nenhum pio de pássaro. Era o silêncio primevo, aquele que Hans Castorp espiava ao deter-se assim, apoiado no bastão, com a cabeça inclinada para um dos ombros e com a boca entreaberta. E suave, incessantemente, a neve continuava caindo, numa queda calma, sem ruído algum.
Não, esse mundo, no seu silêncio insondável, não tinha nada de hospitaleiro. Admitia o visitante por sua própria conta e risco. Em realidade não o recebia nem acolhia,
mas apenas lhe tolerava a intrusão e a presença, sem se responsabilizar por nada. A impressão que despertava era a de uma ameaça muda e elementar, baseada não em hostilidade, senão antes numa indiferença mortal.”