MONTANHAS E LIVROS
Ler um livro é como escalar.
Faço uma analogia que me ocorreu há pouco: ler um livro é como escalar.
Mesmo quando voltamos pela segunda ou terceira vez, nada é igual. Às vezes, a terrível canaleta do Aconcágua é intransponível, e o ar rarefeito é fichinha perto do vento congelante, a altura da neve, o viento blanco e a exaustão completa. Mas há dias de céu azul e pouco vento, quando se pode fazer o caminho com camiseta e fleece. Quem corre maratonas deve sentir a mesma coisa. Mas os esforços dos esportes jamais são comparados a esse ato sagrando e fundamental que é a leitura de um livro: sensação de conquista.
Terminei de ler mais um Carlos Fuentes (Adão no Éden), e é com certa tristeza que faço as contas e percebo que me faltam apenas dois ou três livros desse autor. Me dou conta agora de sua ausência, e que as coisas que aprendi com ele terão que ser reaprendidas em releituras. A tempo: um livro é ótima companhia na montanha para os dias na barraca quando o tempo está rigoroso ou nos intervalos de ócio entre as aclimatações de altitude.
Adão No Éden merece um destaque em Bruxos, Profetas, Brilhantes, por sua ironia e certas similaridades com O Ano da Morte de Ricardo Reis, de Saramago.
E com alguns aspectos da violência urbana, igualmente semelhantes nos tristes trópicos. Hoje foi dia de oito mortos na Rocinha, e existe um personagem no livro de Carlos Fuentes cuja estratégia de segurança pública seja, talvez, irrealmente próxima da realidade. Prometo postar.